“Oh senhor cidadão,
Eu quero saber, eu quero saber
Com quantos quilos de medo,
Com quantos quilos de medo
Se faz uma tradição?
…
Senhor cidadão
Senhor cidadão
Eu e você
Eu e você
Temos coisas até parecidas
Parecidas”
…
(Letra de Senhor Cidadão – música interpretada por Tom Zé
Compositores: Adaltro Magalhaes Gaviao / Acyr Marques da Cruz)
Nas últimas pesquisas, encontramos um ambiente de grave crise moral, de extrema desconfiança nos que legislam, governam, e julgam; de falta de credibilidade nas lideranças e instituições de nosso país: mais de 90% dos brasileiros sentem que o governo do Brasil está na direção errada, e mais de 75% estão inseguros quanto aos interesses e teor para a aprovação das reformas da previdência, trabalhista e sindical.
Um futuro político e econômico instável, acompanhado de queda dos índices de confiança do consumidor e de um eventual novo processo de impeachment presidencial em andamento, em um contexto denso e dramático, onde são revelados valores e princípios dos bastidores das decisões corporativas na gestão do País, fundamentados no caráter e na personalidade de cada “cidadão” representante dos poderes legislativo, executivo e judiciário. E toda essa “trupe” legitimada por nós, meros mortais, cidadãos comuns!
Apesar da crise nacional, da vergonha, do sentimento doloroso de incompetência pessoal e coletiva, de frustração e de exposição, acredito estarmos vivenciando, tímida e gradualmente, um processo de entendimento de nossa unidade, de que somos da mesma extirpe dessa “trupe”. Não tem sido fácil olharmos nos espelhos e nos reconhecer nessas figuras distorcidas, sociopatas! Pois, por mais que sejamos imaturos, que nossa consciência social seja incipiente, nossa autorresponsabilidade e percepção de nossos autoenganos vêm evoluindo, ainda que a duras penas!
Nos oceanos de informações do big data, as circunstâncias exigem que tenhamos um olhar humano investigativo, de avaliação reflexiva e qualitativa, ou seja, analytics, para além das fronteiras das inteligências artificiais, para que possamos compreender que as pesquisas revelam, além do caos, a complexidade, a fragmentação e a diversidade das múltiplas percepções: nada é isto ou aquilo; é isto, aquilo, e muito mais – pérolas de diferentes tonalidades, beleza e valor!
Percebemos e criamos movimentos e tendências globais no aqui e agora: Eu e Nós; Fragmentação e Coesão; Inclusão e Exclusão; Grupos Divergentes e Afins (tribos); Padronização e Singularização; Antagonismo e Convergência; Ostentação e Simplicidade; Global e Local; Controle e Liberdade; Saúde e Doença; Juventude e Senioridade; Energia e Desvitalização; enfim, movimentos que podem ocasionar uma nova dinâmica nos jogos de forças de equilíbrio, inclusão e/ou disrupção. No contexto social encontramos, também, um mundo dividido entre otimistas e pessimistas, esperançosos e apocalípticos, que, mergulhados em um intenso processo de embate, acabam sendo levados a questionamentos e à recriação de propósitos, o que é muito rico!
Observamos também, por exemplo, que os índices otimistas aparecem mais nos mercados emergentes, do que nas economias estáveis e maduras. Ouso inferir, com isto, que o mesmo fenômeno acontece em relação às grandes organizações, estruturadas e tradicionais, pois em nosso trabalho temos percebido maior energia, encanto, inovação, empreendedorismo, agilidade, motivação e conectividade, nas empresas mais jovens e menos estruturadas, e em sintonia com a arte de bem servir seus clientes.
A sofisticação das estruturas, dos sistemas, da tecnologia, dos instrumentos de aferições, não garante a fidedignidade, tanto das informações quanto das reais necessidades do objeto e universo de pesquisa, como também da veracidade das interpretações. Na 20th CEO Survey, publicada este ano pela PwC, uma das questões críticas destacadas refere-se ao desafio de se ganhar conectividade sem perder confiança (ver Figura).
Como não nos perder no mundo do fake news, no grandioso mar do big data, e entendermos a magnitude de seu impacto? Esse contexto torna-se ainda mais crítico devido à baixa capacidade de reflexão e de análise dos que reproduzem, disseminam e propagam, mecanicamente, as informações nas mídias sociais que, por sua vez, influenciam o jogo da grande imprensa. Uma das ações que nos cabem é termos alguma convicção sobre nós mesmos, sobre as empresas que ajudamos a criar; é nos aprofundarmos no autoconhecimento pessoal e organizacional.
Só assim poderemos construir uma plataforma de inteligência sobre pessoas e negócios, uma base de informações críveis, verossímeis, por meio do estudo de correlações científicas, do diálogo claro e íntegro no fortalecimento de relações confiáveis, de parcerias e alianças éticas entre fornecedores e clientes, e toda a cadeia de stakeholders. E, definitivamente, nos afastar das negociações impositivas, subalternas, predadoras, sem saída; do longo e tortuoso caminho de fuga; das rotas de escapes que desqualificam o real valor e propósito humano; das relações de fragilidade, superficialidade, de abusos que deixam sequelas, rompimentos dolorosos de vínculos doentios, “mortes prematuras insanas”, irresponsabilidades corporativas, tal como acontece nos processos hostis de fusões e aquisições.
Urge nos afastar dos círculos viciosos, devastadores; da acomodação; dos egos e das vaidades; e seguir em direção à essência e integridade, à simplicidade e humildade, matéria-prima de acalento, equilíbrio e vida de nossos corações, corpos e mentes, plasmando os legados que um dia planejamos deixar: será? De outra forma, seremos uma informação incompleta, perdida no big data corporativo. É tempo de aprendermos a liderança contemporânea, educadora, que ensina pelo exemplo e inspira comunidades internas e externas, daqui e de lá. Cocriadores do amanhã, que saibamos fazer vingar a amorosidade no caminho do crescimento e da disrupção no mundo do trabalho, na arte de fazer negócios!
Rugenia Pomi
CEO Sextante Brasil